Para que preocupar-me com essa angústia minha,
Se a culpa é minha amiga íntima.
Se é esta, a minha branda noiva,
Aquela que conhece-me como ninguém?

Se foi numa tarde de outono que a conheci.
Quando o crepúsculo riscava o céu pálido de azul
E no horizonte as escuras vagas estremeciam,
Sob o vento álgido do entardecer.

Foi neste cair de noite que ela se aproximou,
Agarrou-se a mim. Minha face beijou.
E não quis ir embora, não quis me largar.

E desde então a carrego comigo,
E ela carrega-me enfim,
É minha mãe, minha filha. É minha triste irmã.

É com ela que vagueio,
Que me ponho a sonhar.
Com aquela que hei de partir,
E quem sabe... Não mais voltar!

 
“Estavas deitado, entristecido,
Caído na cama de lençóis escarlates.
Aproximei-me de ti,
Descorada e em febre.
Procurando tuas pálidas mãos de marfim.

E sentei-me ao teu lado,
Meu anjo da tarde.
E toquei teus cabelos, tão finos e suaves
Levantei-o devagar,
E o trouxe até mim.

Abraçaste-me tão tímido,
Meu pequeno irmão, meu menino.
Em meu peito uma primavera inteira floresceu.
Agarrei-o desesperadamente,
Apertando-o contra o seio,
Sem nunca mais querer soltá-lo - Sem receio.
Ajoelhei minha alma aos teus pés.

Sem saber, ingênua e maldita
Que teu abraço era engano.
Tão cruel escapou-me entre os dedos,
Lançou-me á neblina do abandono.”

 
A tarde é minha fria amiga, nela as gotas de chuva deslizam finas,
Trazem ao peito a velha e enlanguescida dor.
E triste fico a observar teu espectro que some nas esquinas.
Rogo-te, imploro, “Não fujas, não fujas de mim, meu amor”.

Á noite meu leito é frio, uma cova rasa,
Pálida me deito, enterro-me junto ao meu pranto.
Com amargo saber que o teu, é lírio, é fogo, é brasa!
É amor, desejo e sorte, é vida, é encanto!

E se tento esquecê-lo em minha loucura,
Teu espectro vem com singular brandura,
E meu sonho lívido, algente, invade.

Caminhas como Rei, heróico e forte,
Não vês meu canto de langor e morte.
Não vês que o fito, em meu sonho, debalde.

 
“Oh Âmago de incertezas e vazio constante!
Esmerilhão solitário à fugir da chuva.
De um bater de asas ensurdecedor...
De coração vigoroso e paixão latente.

Oh dor genuína e violenta!
Tão límpida quanto a água de uma nascente,
Clara e letal como veneno.

Dor etérea!
Manto frio que me cobre.
Submerge-me em seu silêncio plangente.
Nas horas alvas da solidão.”
 
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