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9/26/2011

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“Que seria de mim se não fossem estas linhas
Onde te deito soturnamente?
Embalsamando-o com a tinta da minha pena.
Eternizando-te a cada palavra que escrevo.
Tu viverás doce amado,
Para além de todos os tempos.
Pois neste papiro respiras o sopro dos deuses.
És vertido em versos, Modelado em melodia
Para reinar sobre a música das esferas.
Velo a ti meu delicado cadáver,
Beijando-te a face álgida,
Para com minhas mãos de anjo
Entregar-te a eternidade.”

 
“Eu estarei deitada em meu féretro
Lívida, fria e inerte e ainda assim
Carregarei minhas cicatrizes...
Tão minhas! Tão alvas!
Cicatrizes que continuarão a falar
E murmurar de tormento.
E quando a minha cripta for levada,
E lá deixarem-me estirada
Elas estremecerão de medo.
Sussurrarão meu nome,
Que ecoará nas paredes de um escuro frio.
E clamarão por mim, atordoadas.
E eu nada poderei fazer,
Não irei retornar depois
De tê-las finalmente abandonado.”

 
“O que me resta é muito pouco,
Meus olhos humanos pedem por mais.
Anseiam por coisas belas,
Flores, chuva e velas
E nada mais!

A luz atravessa um longo
Misterioso, e escuro espaço
Para refletir nas faces do inverno.
E então tudo brilha palidamente
Em seu reflexo errante.

Solidão! Quem me dera...
Invocar os ventos
Em terreno plano,
Planície verde e casta.

Essa melodia ecoa
Por todos os cantos...
Carrega-me para longe
E deita-me em meu próprio
Solitário, sepulcro.”

 
Estavas deitado,
Sonhavas ao meu lado,
Sobre meus lençóis alvos.
Descansavas sob o aroma
Das flores que adornam
Meu leito encantado.
*
Brisas mágicas invadiam o quarto
Vindo beijar-te a face rósea
Teus olhos de Dionísio,
Teus lábios angelicais.
*
Descansavas ao meu lado,
Como um anjo, um Deus.
Estávamos juntos novamente!
Éramos somente essência.
*
Os raios dourados do Sol
Riscavam o céu azul,
Vinham espiar-te da janela
Vinham saudar teu sono perfeito.
*
Tudo se reequilibrava...
E a mais sublime harmonia voltava
A reinar sobre o corpo de Chronos.
Sobre o Tudo e o Nada.
*
Acordastes então,
Como um anjo acorda
Do sonho da paz.
E sorristes para mim.
*
Confessastes-me novamente,
E novamente o teu amor.
Beijava-me e possuia-me,
Como os Deuses de outrora.
*
Entregastes-me um bilhete,
Contendo todas as instruções,
E o caminho secreto,
Para nossos reencontros -
Partistes sem que houvesse dor.
*
Aprendia nesse momento então
O caminho para encontrá-lo.
E descobria que sempre estivestes por perto.
E muito mais que isto, pois,
Estivestes o tempo todo aqui,
...Dentro de mim.